domingo, 30 de maio de 2010

Uma dupla concorrida

Mais uma aula cansativa e sem nada que me chame à atenção. A professora Claudia está explicando o projeto de ciências desse ano e isso não me interessa nem um pouco. Enquanto ela fala, meu olhar vaga pela sala a procura de uma distração, logo achei uma: o Fred. Fred é um aluno do 3º ano que estava passando em frente à porta da minha sala, como sempre. Eu não conseguia tirar os olhos dele. A sala dele ficava do outro lado do prédio, não tinha porque ele ficar passando em frente à sala do 2º ano. Eu refletia sobre isso até que uma parte da explicação da professora me interessou:
-Vocês deverão desenvolver seus projetos em dupla com alunos do 3º ano. Os grupos deverão ser passados para o representante de sala.
Na hora pensei no Fred, mas imaginei que todas as outras meninas pensaram a mesma coisa. Quem não queria fazer trabalho com ele? Claro que eu não podia convidá-lo, então comecei a cogitar outras hipóteses como Joana Leão, a nerd que ninguém convidaria ou Lucas Bittencourt que acabara de se mudar e não tinha amizades no colégio. Enquanto pensava o sinal bateu e mecanicamente peguei minhas coisas enquanto imaginava quem seria a dupla do Fred. No corredor vi Juliana, a menina mais pra frente da minha sala, falando com Fred. Parei na porta da sala do 1º ano e fiquei ouvindo.
- Você já tem dupla pro projeto de ciências?
-A inda não, mas já tenho alguém em mente pra convidar.
Nessa hora o sorriso de vencedora da Ju sumiu e eu ri baixinho. Ver a Ju ser rejeitada pelo menos uma vez me alegrava.
-Mas Fred...
-Desculpa, mas tenho que ir ali procurar a minha dupla.
Nesse momento meu coração disparou, o Fred estava vindo em minha direção. Eu não sabia o que fazer. Entrei na sala do 1º ano e sentei no chão, eu não acreditava que o Fred queria fazer trabalho comigo. Eu nunca conversei com ele nem nada, não acreditava naquilo. Mas vai ver que nem sou eu a pessoa que ele vai convidar, vai ver tinha alguém por perto e eu nem vi. Meu coração não cabia dentro do peito, parecia que queria sair pela boca, eu não conseguia parar de sorrir. Fiquei mais de cinco minutos sentada olhando pro nada com meus cadernos na mão. Acalmei-me aos poucos e resolvi sair da sala para ir embora.
Quando sai da sala, o Fred estava parado encostado na parede olhando pra mim. Fiquei vermelha de vergonha, mas sorri como se nada tivesse acontecido.
- Estava me perguntando por quanto tempo você iria ficar ali sentada.
Fiquei mais vermelha do que nunca.
-Ah, eu estava vendo se meu livro tinha ficado na sala...
-Do 1º ano?
- É.
-Estava te esperando. Quer uma carona pra casa?
- Quero.
- Você já tem dupla pro projeto de ciências?
-Não e você?
- Ah, ainda não. Estava pensando em chamar a Clara.
É, eu estava certa.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A menina que aprendeu a amar

Ela era só uma menina. Uma menina que não conhecia muito do mundo nem do amor. Ela era apenas mais uma que sonhava alto e não dava limites à imaginação. Mais uma entre várias, era assim que ela pensava.
Ela tinha alguns amigos confiáveis, outros apenas para zuação e outros para quando lhe era conveniente. Todos são assim. Mas diferente do resto do mundo, ela tinha um anjo. Esse anjo não tinha asas como os demais. Não estava sempre por perto para lhe proteger nem para evitar os acidentes e sofrimentos, mas ele estava sempre perto para aliviar as dores e lhe ensinar tudo que aprendera com a vida.
Não era um anjo muito experiente, tinha apenas 19 anos. Não tinha conhecido o mundo todo, nem vivido em muitos lugares. Nunca fora ao céu e não tinha vivido todas as experiências possíveis, mas lhe ensinou a mais importante.
A menina tinha um anjo carioca. Era um carioca como qualquer outro. Falava pow, mermo, tinha sotaque e adorava praia. Não tinha muito juízo, era lindo e encantador. Era um carioca normal. A única diferença é que ele conquistou uma mineira. Não só conquistou, ele roubou o coração dessa menina pra sempre. Ele mudou a vida dela apenas com palavras e gestos.
Ela se comunicava com seu anjo pela internet, uma vez por telefone e outra por carta. Uma carta que está guardada em um lugarzinho só dela, pois foi a primeira carta de amor que ela recebeu. E não importam quantas outras receba aquela sempre será a mais marcante e talvez a mais sincera.
Não conhecia seu carioca pessoalmente, mas confiava nele de olhos fechados. Compartilhou com ele todos os sofrimentos, as alegrias, as dores, os dias de tpm, os dias de broncas, os dias de besteiras, os dias de desejo, de sol, de chuva, de frio, de calor... Todos os dias durante mais de um ano.
Mas todo relacionamento tem um 'prazo de validade' e o deles chegou ao fim. O carioca sumiu e não deu mais noticias para a mineira. Esta aos poucos tentava continuar sua vida sem ele, mas um pedaço lhe faltava. Seu coração estava 'off-line'. Não queria mais ninguém a não ser ele e quando tinha outro alguém era impossível não fazer comparações. Porque quando se prova do melhor, comparações sempre serão feitas. Mas aos poucos ela aprendeu a seguir em frente e guardar esse anjo apenas em seu coração para os dias de tristeza.
Um carioca que ensinou uma mineira a amar.